sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Depoimento de Fernando Correia


(em jeito de apoio e estímulo à lista A, e de apelo a que votem nela)
1. A situação laboral e profissional dos jornalistas tem vindo a agravar-se cada vez mais. Alguns números: 69% ganham entre 501 e 1500 euros líquidos mensais. 33,4% não têm contrato fixo (precários). 65% dos contratos são até 40 horas semanais, mas a maioria trabalha mais tempo. 3,9% são remunerados pelas horas extraordinárias,10,2% são compensados em tempo de descanso pelo trabalho extra, 63,4% não tem qualquer compensação. 25,8%  prestam serviço para mais de um órgão dentro do mesmo grupo empresarial, sendo que 66,8% não recebe remuneração extra por esse trabalho. 63,6% estão insatisfeitos com os salários, mas 2% estão extremamente satisfeitos. 36,6 % referem o medo de perder o emprego. 77,9%  dizem-se insatisfeitos com a profissão, 11% satisfeitos, mas 1,9% extremamente satisfeitos. 64,2% dos jornalistas já pensaram pelo menos uma vez abandonar a profissão. Um último dado: 25,2% diz ter participação sindical, enquanto 56,5% nunca foi sindicalizado.
(Elementos parcelares de um inquérito realizado no quadro de uma investigação promovida por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa). A amostra foi de quase 1500 jornalistas (validados). Em 9 de janeiro de 2017 existiam 6114 jornalistas com carteira profissional ou equiparados). 
  2. O jornalismo e os jornalistas portugueses atravessa uma fase de profundas transformações, nomeadamente de natureza tecnológica, mas também no seu enquadramento e constrangimentos empresariais e laborais.  com tudo isso o que implica. É necessário: impedir que a pretexto da mudança se percam regras e princípios éticos e profissionais indissociáveis do jornalismo rigoroso e livre, assim como da responsabilidade social do jornalista (desde logo no sector publico, mas também no privado); combater a perversidade profissional que resulta da interiorização como valores jornalísticos  daquilo que são apenas valores comerciais, como a concepção do “bom jornalismo” como  aquele que “vende bem”; reafirmar valores como a solidariedade e a camaradagem, com a ideia clara de que a unidade na acção é imprescindível; reforçar a disponibilidade para a participação em estruturas como os conselhos de redacção, os delegados sindicais, as comissões de trabalhadores, sendo certo que sem organização e sem as organizações, a começar pelo sindicato, nada se consegue; valorizar a ligação às pessoas, apelar e promover a sua intervenção e participação, considerando que os problemas da informação, indissociáves da formação, dizem respeito a toda a sociedade; sublinhar que a fragilização do jornalismo e dos jornalistas significa, inapelavelmente, uma muito grave e perigosa fragilização da democracia.
            3. No exercício do jornalismo, a perspectiva humanista e a consciência cívica nascem e alimentam-se do confronto com as realidades da vida, um confronto naturalmente imposto pela própria natureza da profissão. Daqui resulta, ou deveria resultar, um perfil pessoal, mas também de grupo, estruturado em duas dimensões: a  profissional e a cívica. O jornalista só o é por inteiro se for um cidadão/jornalista, ou se preferirem, um jornalista/cidadão. Assim contribuindo para criar as condições que irão permitindo a transformação no jornalismo e na informação, e simultaneamente também em tudo o que os envolve e condiciona.

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